CONGO-BRAZZAVILLE: “As pessoas são muito pobres mas a fé é forte”, diz responsável de projectos da Fundação AIS

A República do Congo é um país africano muito rico em recursos naturais, mas a sua população vive em grande pobreza. Independente desde a década de 60 do século passado, a sua história tem sido turbulenta. Desde governos marxistas a uma dolorosa guerra civil, tudo tem contribuído para a situação terrível em que vivem as populações. Maxime François-Malsal, coordenador de projectos da Ajuda à Igreja que Sofre nas nações francófonas da África Central, esteve em visita de trabalho a este país, também conhecido como Congo-Brazzaville, e ficou impressionado com a fé deste povo.

Por vezes, a República do Congo é confundida com a República Democrática do Congo. Ficam ambos em África, são vizinhos e partilham muita coisa em comum. A começar pelo sofrimento do povo. Em ambos os países, há milhares de pessoas muito pobres num contraste escandaloso com a riqueza que se esconde na natureza, no subsolo.

A República do Congo, também conhecida como Congo-Brazzaville, tem índices de corrupção e de pobreza extremos. O mais recente Relatório da Liberdade religiosa no Mundo da Fundação AIS, editado em 2023, é taxativo. “O Governo da República do Congo é reconhecido por muitos índices internacionais como sendo um dos mais corruptos do mundo. Cerca de 46,5% da população vive abaixo do limiar da pobreza, com a pobreza extrema a aumentar.” É este país que Maxime François-Malsal, coordenador de projectos da Ajuda à Igreja que Sofre nas nações francófonas da África Central, visitou em Dezembro do ano passado.

Em entrevista a Lucia Ballester, Maxime faz um retrato do que viu, contou histórias que o marcaram e deixou um alerta para a necessidade de se continuar a apoiar a Igreja deste país, que desempenha um papel notável no apoio aos que mais sofrem, aos que passam por mais necessidades.

O Congo Brazzaville é um país grande. Faz fronteira com Angola, Gabão, Camarões, República Centro-Africana e República Democrática do Congo. Tem cerca de 6 milhões de habitantes que, como sublinha o responsável de projectos da AIS, são na sua esmagadora maioria muito pobres, apesar das riquezas do país.

Apesar das suas riquezas naturais e dos rendimentos gerados pela exportação de madeira e de petróleo, a população é muito pobre, não só do ponto de vista económico, mas também do ponto de vista moral.”

HISTÓRIA TURBULENTA DESDE OS ANOS 60

Para se compreender como isto acontece, é preciso mergulhar um pouco no seu passado, na turbulência da sua história. Uma história recente que começa em 1960 quando deixa de ser uma colónia francesa e ganha a sua independência.

“O Congo-Brazzaville tem uma história turbulenta, que deixou marcas na população. Atravessou uma guerra terrível no final dos anos 70, que levou o actual presidente Denis Nguesso, um militar, ao poder em 1979. Em 1997, as forças leais a Nguesso travaram uma nova guerra civil contra os apoiantes de Pascal Lissouba, eleito Presidente da República em 1992. Em consequência dessa guerra, Lissouba teve de se exilar. Tudo isto teve um profundo impacto na população, com milhares de pessoas mortas ou deslocadas. Desde então, Nguesso tem estado no poder e as pessoas vivem o seu quotidiano, procurando apenas sobreviver e encontrar alguma paz”, explica Maxime François-Malsal.

Toda esta turbulência teve também enormes consequências para a vida da Igreja. “Em 1970, houve um período de socialismo, com consequências terríveis para a Igreja. Um dia, sem qualquer aviso prévio, o Governo socialista nacionalizou todas as escolas católicas e impôs restrições às actividades religiosas, bem como à participação da Igreja nos assuntos públicos. Até 1991, a bandeira nacional era vermelha, com o martelo e a foice como símbolos nacionais. Actualmente, a Igreja recuperou algum do terreno perdido, mas ainda há muito a fazer. Noutros países, como os Camarões, por exemplo, cerca de 50% das escolas são geridas pela Igreja, enquanto no Congo apenas cerca de 10% das escolas são geridas pela Igreja”, descreve o responsável de projectos da AIS.

No período trágico da guerra civil, sobressaiu a figura do Cardeal Biayenda, que exortava o povo a manter a calma e a seguir Deus e que foi assassinado em 1977. Actualmente, como lembra Maxime, “está aberta uma causa para a sua beatificação”.

ESPERANÇA NO FUTURO, APESAR DA POBREZA

Neste país, em que os cristãos representam quase 95 por cento da população [os católicos são cerca de 47%], a grande luta é pela sobrevivência no dia-a-dia. “A pobreza deixa as pessoas desesperadas e a luta pela sobrevivência é extremamente dura”, diz Maxime.

Tudo isto reflecte-se também na vida da Igreja. “Há poucas vocações para a vida religiosa entre as mulheres, e o aumento das seitas protestantes é preocupante. Apesar de tudo, acredito que a Igreja no Congo-Brazzaville está cheia de pessoas maravilhosas e de padres excepcionais. Eles precisam de nós para lhes darmos esperança e para os ajudar a eles e às suas comunidades a prosperar”, acrescenta. 

No entanto, apesar de tudo, os sinais são positivos e é com esperança que Maxime vê o futuro da Igreja neste país de África. É verdade que as pessoas são muito pobres, sentem-se impotentes e desesperadas, mas a sua fé é forte. Apesar de todas as dificuldades, trabalham incansavelmente e em condições extremas, perseverando na sua missão. Recentemente foram nomeados novos bispos, com atitudes muito positivas e renovadoras. Como as irmãs nos disseram no orfanato que visitámos, a missão da Igreja pode resumir-se assim: ‘continuar a lutar pela causa e pela missão’. Portanto, sim, há esperança”, afirma categoricamente o responsável de projectos da Fundação AIS nos países francófonos da África Central.

GRANDE APOIO À LOCOMOÇÃO

A ajuda que a fundação pontifícia tem dado ao Congo Brazzaville tem contribuído, em diversos sectores, para o trabalho da Igreja. “A Fundação AIS tem realizado muitos projectos: formação de seminaristas, recursos para a compra de veículos, projectos educativos, casas para padres…”, explica Maxime.

“Durante a nossa visita ao seminário de Brazzaville, onde celebrámos a Missa, fiquei impressionado com a atitude dos formadores, que são muito dedicados a preparar bons padres. Fomos também muito bem acolhidos pelos rapazes, raparigas e religiosas do orfanato de Saint Marie Veronique, em Owando, que nos saudaram com cânticos e pareciam muito felizes com a nossa visita. Recentemente, ajudámos o orfanato a comprar um automóvel. Temos muitos destes projectos no Congo-Brazzaville, porque há uma grande necessidade de veículos, uma vez que as distâncias são enormes e as estradas estão num estado deplorável, para além de estarem frequentemente inundadas”, acrescenta o responsável.

UMA HISTÓRIA EMOCIONANTE

A visita teve até momentos emocionantes, como o encontro com uma família de congoleses que vive na selva a quem Maxime teve de pedir ajuda quando o radiador do carro avariou… “Um dos momentos mais emocionantes foi em Impfondo, quando tivemos de parar o carro em que viajávamos para pedir água, pois o radiador tinha rebentado. Ali, no meio do nada, encontrámos uma família de congoleses que vive na selva (são por vezes designados por pigmeus, embora isso seja um insulto no Congo). Muitos deles vivem em grande pobreza e não têm acesso à educação. Poucos se tornaram católicos porque têm tendência para rejeitar tudo o que é novo”, conta Maxime.

Este encontro improvável levá-lo-ia a conhecer de perto a hospitalidade de uma família muito pobre mas muito generosa. “Uma das crianças começou a chorar quando nos viu, e quando perguntámos porquê disseram-nos que era porque nunca tinha visto uma pessoa branca, uma vez que não têm contacto com pessoas de fora. Mas foi muito impressionante, porque quando encontrámos esta família e lhes pedimos água, não só nos deram, como nos acolheram muito bem e insistiram para que ficássemos em sua casa. São casas muito pequenas, feitas de ramos e folhas. São pessoas muito pobres, mas oferecem tudo o que têm”, contou Maxime.

A Ajuda à Igreja que Sofre financiou mais de 200 projectos no Congo Brazzaville desde 2017 para a formação de mais de 1700 seminaristas, bem como para Estipêndios de Missas, materiais para a catequese e casas paroquiais, contribuindo para a missão da Igreja no Congo-Brazzaville. A instituição pontifícia também apoiou e financiou projectos de construção e transporte para reforçar o trabalho pastoral.

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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