A Irmã Luisa Dell’Orto fazia hoje, segunda-feira, 65 anos de idade. Morreu, assassinada, neste sábado, dia 25, na sequência de um ataque armado, provavelmente um assalto, em Port-au-Prince. Italiana, a religiosa pertencia às “Irmãzinhas do Evangelho”, era conhecida como o “anjo das crianças de rua” e estava no Haiti há duas décadas. Atingida com gravidade, ainda foi levada de urgência para o hospital Bernard Mevs, mas não resistiu aos ferimentos.
Ontem, domingo, logo após a oração do Angelus, o Papa Francisco lembrou a irmã, o exemplo da sua vida, a dedicação aos outros, e falou em “martírio”. “Há 20 anos a Irmã Luisa vivia lá dedicada acima de tudo ao serviço das crianças de rua. Confio a sua alma a Deus e rezo pelo povo haitiano, especialmente pelos pequenos, para que possam ter um futuro mais sereno, sem miséria e sem violência”, disse o Papa. Francisco acrescentou ainda que “
a Irmã Luisa fez de sua vida um dom para os outros, até ao martírio”.
A Irmã Luisa Dell’Orto era o “pilar” do trabalho que as religiosas desenvolviam no Haiti, especialmente junto das crianças de rua. Como recorda o
Vatican News, a comunidade religiosa da irmã, inspirada em Charles de Focauld, tem uma casa nos arredores da capital haitiana onde são acolhidas as crianças desamparadas. O espaço, a Casa Carlo [Kay Chal], construída com o apoio, entre outras entidades, da Caritas de Itália, “é um espaço seguro para centenas de crianças deste bairro muito pobre da periferia de Port-au-Prince”.
A “Irmã Luisa”, como também era conhecida, chegou ao Haiti em 2002 e foi a grande dinamizadora desta casa e desta missão junto das crianças de rua, especialmente após o grande terramoto de 2010, que obrigou à reconstrução das instalações. No Haiti, as “Irmãzinhas do Evangelho” são também responsáveis por uma escola primária e uma cooperativa de bordados para mulheres. A escola é frequentada por cerca de 300 crianças e adolescentes.
Antes do Haiti, a Irmã Luisa Dell’Orto tinha estado em missão em África, passando pelos Camarões, onde chegou a viver com uma comunidade de pigmeus, e também em Madagáscar.
O assassinato desta religiosa volta a relançar a questão da insegurança no Haiti, que é o país mais pobre da América Latina e uma das nações menos desenvolvidas do mundo. Anda em Abril, no dia 28, o Haiti sobressaltou-se com a
notícia do rapto de um sacerdote nos arredores da capital.
Apesar de o Padre Whatner Aupont ter sido libertado logo no dia seguinte, menos de 24 horas depois do sequestro, isso não aliviou nem a gravidade do caso nem o sentimento de medo em que as populações vivem, até por ter sublinhado o facto de que nem os próprios elementos da Igreja são poupados na onda de violência que atravessa o país.
O Arcebispo de Cap-Haïtien, D. Launay Saturné, disse mesmo, na ocasião, que o Haiti está a viver um tempo de enorme instabilidade com a multiplicação de grupos armados que actuam perante a inoperância das autoridades.
Em declarações à Fundação AIS, após a libertação do sacerdote, o prelado referiu que a questão dos sequestros está a tornar-se de dia para dia mais complexa e difícil. “A deterioração desta situação deve-se à multiplicação de gangues armados, aos constantes casos de rapto, à insegurança omnipresente, à inflação, especialmente ao aumento dos preços dos bens essenciais, aos incidentes sangrentos e a uma avalanche de distúrbios e actos de crueldade.”
Para monsenhor Saturné, esta instabilidade está a tornar a população cada vez mais receosa o que contribui também para a paralisia da vida económica. “Ninguém sabe quanto tempo vai durar esta situação conturbada, esta instabilidade política e a insegurança. Muitos sectores e instituições de vida nacional tornaram-se instáveis e quase inexistentes. Ninguém é poupado. Estamos todos expostos.”
A Fundação AIS apoiou cerca de 70 projectos no Haiti no ano de 2021, num valor de cerca de 1,4 milhões de euros, especialmente para a aquisição de veículos para o trabalho pastoral da Igreja e para a formação para leigos e sacerdotes.
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