Cresce a expectativa de um possível resgate da irmã franciscana Gloria Narvaez Argoti, sequestrada por grupos jihadistas no Mali há três anos e oito meses, depois de Sophie Pétronin, a refém francesa, que com ela partilhou o cativeiro, ter relatado alguns pormenores sobre o seu próprio processo de libertação.
Falando na passada sexta-feira, 9 de Outubro, a um grupo de pessoas na sala VIP do aeroporto militar de Villacoublay, na região de Paris, em que se incluía o presidente francês Emmanuel Macron, Pétronin, de 75 anos, disse que só soube que iria ser libertada na “madrugada” de segunda-feira, dia 5 de Outubro.
Um dos jihadistas responsáveis pelo grupo de reféns, aproximou-se nesse dia da trabalhadora humanitária francesa e disse-lhe: “pegue nas suas coisas, que se vai embora…”. O relato de Sophie Pétronin é significativo pois dá pormenores até agora desconhecidos sobre a vida em cativeiro e o estado de saúde em que se encontra a irmã franciscana.
Segundo o relato publicado no passado dia 11 de Outubro pelo jornal digital “Mediapart”, Sophie Pétronin afirma que chamava carinhosamente à Irmã Gloria Narvaez Argoti a sua “companheira de quarto”. Quando o jihadista lhe dá a indicação para preparar as suas coisas pois iria embora, a irmã colombiana, sequestrada a 7 de Fevereiro de 2017, e que estaria a seu lado, pergunta: “E eu?”. A resposta do jihadista, na descrição da ex-refém francesa, permite acalentar todas as esperanças: “Tu ficas para depois!”.
Sophie Pétronin, aproveitando talvez o facto de estar na presença de Emmanuel Macron e do ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, defendeu a urgência da libertação também da irmã franciscana. “Algo tem de ser feito pela minha companheira de quarto, Gloria, pois ela não está bem”, disse a ex-refém, acrescentando: “a sua cabeça está a falhar…”
Outra refém dos jihadistas no Mali, a missionária suíça Beatrice Stockli, poderá ter sido assassinada. O depoimento de Sophie Pétronin aponta pelo menos nesse sentido. Diz ela, citada pelo “Mediapart”, que a missionária, que trabalhava na região de Timbuktu, depois de um “conflito” com os jihadistas, terá sido levada “para trás de uma duna”. Em seguida, diz, escutou-se “um tiro”.
Sophie Pétronin e a Irmã Gloria Narvaez Argoti partilharam durante algum tempo a experiência de cativeiro às mãos de um dos grupos jihadistas com ligações à Al-Qaeda e que têm vindo a transformar o Mali e alguns dos países da região num autêntico campo de batalha.
A última vez em que houve notícias sobre a freira colombiana foi em Setembro de 2018, quando foi divulgado um vídeo em que aparece também a francesa Sophie Pétronin. Desde então, nunca mais se soube nada sobre ela.
Gravado aparentemente no interior de uma tenda, nesse vídeo a Irmã Gloria, que pertence à Congregação das Franciscanas de Maria Imaculada, aparece a solicitar a ajuda do Santo Padre para a sua libertação, agradecendo-lhe por “se ocupar” do seu caso e pedindo-lhe também para não se esquecer da situação da “senhora Sophie Pétronin, porque ela está muito doente”.
O vídeo, a última prova de vida da irmã franciscana, termina com a religiosa a dizer que “faz todos os dias” a mala e prepara as suas coisas, pois “aguarda todos os dias” também pela sua libertação.
Anteriormente tinham sido divulgados dois outros vídeos, em Julho de 2017 e em Janeiro de 2018. Ambos foram entendidos também como “prova de vida” que os terroristas estariam a produzir para o exterior, alimentando assim a expectativa de que as autoridades teriam estabelecido linhas de contacto para eventuais negociações com vista à libertação da irmã e dos outros reféns.
Negociações que envolvem pelo menos quatro países: Colômbia, França, Espanha e Vaticano. O sequestro da irmã colombiana, que dedicou os últimos 12 anos da sua vida à missão em África – além do Mali, ela já esteve também no Benim –, foi apresentado entre as várias histórias da
Campanha da Quaresma deste ano da Fundação AIS.
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