Agrava-se a situação no norte de Moçambique, com o pânico generalizado das populações em fuga, incluindo elementos da Igreja, por causa dos combates que, desde a passada quinta-feira, têm tomado conta da vila de Macomia e de outras localidades como Mocímboa da Praia, Quissanga e Muidumbe, todas situadas na província de Cabo Delgado.
A situação é muito preocupante, com relatos de casas em chamas, grupos armados espalhados em simultâneo por diversos bairros e vilas e confrontos com unidades das Forças de Segurança.
Além das populações em fuga, e há relatos dramáticos de pessoas que fizeram dezenas e dezenas de quilómetros a pé pelo mato, também os elementos da Igreja Católica se viram forçados a abandonar a vila de Macomia na passada sexta-feira, dirigindo-se para “locais mais seguros”.
Os grupos armados que têm vindo a espalhar a violência e destruição na província de Cabo Delgado reivindicam pertencer ao Daesh. O Bispo de Pemba,
D. Luiz Fernando Lisboa, relatou à Rádio Vaticano a amplitude desta ofensiva terrorista. “[Eles] atacaram várias aldeias próximas de Macomia e também a vila em simultâneo. E na vila, vários bairros. Havia casas a arder.”
O relato do bispo é expressivo sobre as consequências desta ofensiva terrorista: “O povo todo fugiu para a mata”. Apesar da resposta das Forças de Segurança, que desta vez fizeram frente aos chamados “insurgentes”, o Bispo de Pemba reconhece que a situação no terreno tende a agravar-se.
Para já, independentemente da evolução dos combates, a crise humanitária é cada vez mais evidente. “A tendência é para piorar”, diz o Bispo. “As pessoas estão a abandonar as casas. Nós recebemos, em Pemba, pessoas que andaram todo o dia na mata…”
Entretanto, as autoridades decretaram este fim-de-semana um prolongamento do estado de emergência até ao dia 19 de Junho. D. Luiz Fernando Lisboa compreende as razões, que se prendem com a pandemia do coronavírus – Cabo Delgado é a região de Moçambique mais atingida pelo Covid19 – mas também pela necessidade de se combater com mais eficácia os grupos armados.
Só que prolongar o estado de emergência vai fazer aumentar a agonia de um povo que vive tempos profundamente difíceis. “Nós vemos [o prolongamento do estado de emergência]com muita preocupação, porque as pessoas são muito pobres, precisam de sair para ir trabalhar, para trazer comida, pão…”
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