A não comparência no tribunal do homem que raptou, violou e forçou a jovem cristã Maira Shahbaz, de 14 anos, a casar poderá significar um novo rumo neste caso que está a comover a comunidade cristã paquistanesa.
Mohamad Nakash Tariq não compareceu na audiência do tribunal em Rawalpindi, no passado dia 23 de Setembro, onde escutaria uma petição para o cancelamento do seu casamento com Maira, invocando-se o facto de este ter ocorrido contra a vontade da jovem cristã e por esta ser menor de idade.
No seguimento de uma decisão judicial anterior, foi decidido rever também as provas apresentadas por Mohamad Tariq e que atestariam a legalidade do seu casamento com Maira Shahbaz e comprovariam o facto de ela ter abraçado o Islão. O tribunal, em Rawalpindi, solicitou a apresentação de novas provas, incluindo registos policiais e as certidões de nascimento e de casamento de Maira Shahbaz, tal como novos relatórios médicos.
Este caso teve um volte-face dramático a 18 de Agosto quando Maira conseguiu fugir das garras do seu raptor e apresentou queixa contra ele numa esquadra da polícia. Nessa declaração, a jovem rapariga afirmou ter sido raptada à força, em Abril, com uma arma apontada contra si, quando estava perto de sua casa em Madina Town, no Punjab. Posteriormente, disse ainda Maira às autoridades, foi drogada e forçada a casar e a converter-se ao Islão. Nesse testemunho, a jovem cristã afirmou também ter sido violentada, chantageada e forçada à prostituição.
Entretanto, o clérigo muçulmano cuja assinatura aparece na certidão de casamento de Maira com Mohamad Nakash já rejeitou o documento afirmando ser uma falsificação. A não comparência em tribunal do homem acusado de sequestro de Maira Shahbaz não significa, porém, que o caso esteja encerrado. Mesmo que juridicamente as coisas estejam a avançar de forma positiva, a família da jovem cristã tem medo do que possa ainda acontecer.
A advogada de Maira,
Sumera Shafique, afirmou, em declarações à Fundação AIS, que estão todos “preocupados”, temendo que Mohamad Nakash Tariq “volte a raptá-la, matando-a assim como a outras pessoas da família”. Os sinais são inquietantes pois trata-se de uma família cristã humilde. “Mesmo que ela ganhe o caso – disse ainda a advogada à AIS – não estará a salvo.”
Numa sociedade em que as minorias religiosas são tantas vezes perseguidas e humilhadas face à inoperância e indiferença das autoridades, todos os receios são legítimos. Diz a advogada que, “ao fugir” da casa onde estava sequestrada e “regressando à sua família, Maira será sempre considerada apóstata do islão aos olhos de Nakash e dos grupos das máfias, e estes continuarão a exigir a sua morte”.
Sinal disso, acrescentou ainda Sumera Shafique à Fundação AIS, tanto a jovem como a sua família têm continuado a receber ameaças, apesar de estarem sob protecção policial 24 horas por dia e em lugar incerto, tal como foi ordenado pelo tribunal. “A família tem muito medo”, sintetizou a advogada.
PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt