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PAQUISTÃO: Tribunal valida casamento da jovem cristã sequestrada invocando para isso a lei islâmica

4 fevereiro 2020
PAQUISTÃO: Tribunal valida casamento da jovem cristã sequestrada invocando para isso a lei islâmica
A comunidade cristã paquistanesa está chocada com a aplicação da lei islâmica, a ‘sharia’, pelo Supremo Tribunal de Karachi num caso de sequestro que tem mobilizado a opinião pública internacional.

Ignorando a própria lei, que não permite o casamento de pessoas menores de idade, os juízes validaram ontem o casamento forçado de Huma Younus, uma rapariga cristã de apenas 14 anos de idade que foi raptada a 10 de Outubro em Zia Colony, na cidade de Karachi.

Joel Aamir Sahotra, um destacado dirigente da comunidade cristã paquistanesa e antigo deputado na Assembleia do Punjab, enviou uma mensagem para a Fundação AIS em Lisboa condenando este “veredicto brutal” que é “contra as lei e os valores morais”.

A partir de agora, refere Sahotra, “as meninas e mulheres das minorias religiosas sentem-se mais inseguras”, até porque, acrescenta, “forçar uma conversão é uma forma muito fácil para acusar e raptar uma menina de uma minoria religiosa”.  

A mãe de Huma Younus também reagiu de imediato à decisão do tribunal, afirmando que este é mais um sinal “de que os cristãos não são considerados cidadãos do Paquistão”.

Como a Fundação AIS já noticiou, a família de Huma Younus apresentou recurso em tribunal sobre este caso, pedindo aos juízes para anularem o alegado casamento da jovem cristã por ela ser menor de idade. O tribunal convocou uma nova sessão para o dia 4 de Março, mas o facto de o casamento ter sido validado entretanto vai tornar mais difícil, se não mesmo impossível, a condenação do autor do sequestro da jovem Huma Younus.

“Esperávamos que com este caso a lei fosse aplicada pela primeira vez, mas claramente no Paquistão estas leis apenas são formuladas e aprovadas para dar crédito ao país aos olhos da comunidade internacional, para pedir fundos para desenvolvimento e conseguir livre acesso aos mercados europeus para produtos paquistaneses”, lamentou a advogada Tabassum Yousaf, em declarações registadas pela Fundação AIS.

Por sua vez, o antigo deputado regional no Punjab acusa as autoridades de não protegerem suficiente os direitos dos cristãos. “O Paquistão é um país conhecido pela perseguição às minorias religiosas no seu próprio seio”, diz Joel Aamir, lamentando que, no caso em concreto de Huma Younus, “uma jovem de 14 anos que não está autorizada a casar, nem em termos legais nem étnicos”, não tenha havido um clamor de condenação na sociedade.

Classificando a comunidade cristã como “muito pequena e vulnerável”, Joel Amir mostra-se inquieto ao constatar que, hoje em dia, “o elemento religioso e a mentalidade levam a melhor em todos os aspectos da vida no Paquistão”.

De facto, o sequestro de raparigas é uma realidade cruel no Paquistão e afecta principalmente as comunidades cristã e hindu, duas das principais minorias religiosas neste país muçulmano. Normalmente, as jovens depois de raptadas são forçadas à conversão ao Islão e são dadas em casamento a homens mais velhos.

O Arcebispo de Lahore, recentemente de passagem por Portugal, comentou o caso da jovem Huma Younus, lembrando que, só no ano passado, houve “cerca de uma centena” de casos de sequestros de raparigas cristãs no Paquistão. “Sei que [Huma] foi raptada e depois foi violada”, afirmou D. Sebastian Shaw.

Para o prelado, em declarações à Fundação AIS, o sequestro de jovens raparigas “significa que alguma coisa está errada na sociedade”. Não há números concretos sobre esta realidade dramática. Em relação ao ano passado, por exemplo, ano em que ocorreu o sequestro da jovem Younus, o Arcebispo de Lahore avança apenas com uma indicação genérica: “Não sei os números exactos, mas foram muitos, muitos casos. Talvez uma centena, talvez um pouco menos. Do Punjab, de onde eu venho, também houve casos e muitas [destas raparigas] são menores de idade.”

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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